Acho que ainda somos crianças. Todos. Talvez quase todos. Não sei se importa quantos são se ainda existir um. Alguém que precise, necessite, insista em espreitar, não para ver uma outra coisa que não aquela olhada, mas para ver precisamente aquilo onde pousa o seu olhar. E é muito difícil ver as coisas com os olhos técnicos, em que a visão é a percepção dos raios luminosos onde o olho é qual câmara onde dentro de si a retina, com seus cones e bastonetes, sente essas primeiras impressões e através do nervo óptico e do núcleo geniculado lateral dá ao córtex cerebral pedaços de uma história de montar. E no cérebro acontece esse processo de (re)construção peça após peça: as distâncias, cores, movimentos, texturas e formas deixam de ser impressões e solidificam.
Este ver acontece até à exaustão, porque está sempre presente. Não deixa de acontecer, e mesmo de olhos fechados acho que ainda acontece. A luz intromete-se por entre as pestanas e atira-se lá para o fundo do cosmos cerebral para nos continuar a fazer ver. Mas este ver que parece fácil, porque acontece sempre, é o mais difícil de todos. Existe para nos confundir, fazer crer que as coisas são apenas de uma forma, aquela que os olhos mostram. E se não soubermos falar com os olhos eles continuam a sua incrível tarefa, quais mágicos alquimistas, a tranformar a luz em realidade.
Mas depois acontece haver um... e o extraordinário desse um é o efeito que cria nos olhos, os olhos de ver de forma difícil. Mostra-lhes as coisas. Para que eles as vejam. Não lhes diz o que elas são, nem que nome devem ter, nem que gosto, ou cheiro ou toque, para além daqueles que lhe pertencem. A coisa nunca deixa de ser a coisa. E esse gesto desarma a máquina do ver, porque os olhos estão habituados a ver as coisas onde elas estão. (mas deixem que vos diga que onde elas estão não é um lugar, é mais um estado de permanência)
Os olhos estão habituados a ver tudo com exacta precisão, necessitam(os) dela para criar uma realidade onde possamos habitar. Assim, pedras são minerais e lápis são instrumentos de escrita. Não são folhas de papel nem picos montanhosos.
Essa mudança de estado acontece quando deixamos de ver ou querer ver a coisa dessa forma que parece fácil mas é a mais difícil; quando o desejo da exactidão da coisa nos deixa espaço para realmente ver a coisa. E talvez seja ainda pelos olhos que as coisas parecem acontecer, mas já são outros olhos, uns que fomos perdendo enquanto crescíamos fascinados com coisas. Esses olhos de quando éramos pequenos e ansiamos agora ter de novo. Os olhos de ver quando estamos com os olhos fechados. Os olhos de espreitar.
E o que mais importa, porventura, nem é o que se esconde debaixo da pedra quando lá vamos espreitar – sabemos sempre que lá está uma outra coisa, e seremos ainda mais sábios quando percebermos que essa outra coisa é exactamente aquela coisa que julgavamos ser outra coisa mas é ela mesma.
O que interessa é essa coisa que veio antes, e que existe sem nome pois é um nome diferente em cada um de nós e por isso não tem um só nome nem é uma só coisa, o que interessa é porque insistimos em espreitar para ver o que acontece por debaixo da pedra.
Acho que ainda somos crianças. Todos. Talvez quase todos. Não sei se importa quantos são se ainda existir um. Alguém que precise, necessite, insista em espreitar, não para ver uma outra coisa que não aquela olhada, mas para ver precisamente aquilo onde pousa o seu olhar. E é muito difícil ver as coisas com os olhos técnicos, em que a visão é a percepção dos raios luminosos onde o olho é qual câmara onde dentro de si a retina, com seus cones e bastonetes, sente essas primeiras impressões e através do nervo óptico e do núcleo geniculado lateral dá ao córtex cerebral pedaços de uma história de montar. E no cérebro acontece esse processo de (re)construção peça após peça: as distâncias, cores, movimentos, texturas e formas deixam de ser impressões e solidificam.
Este ver acontece até à exaustão, porque está sempre presente. Não deixa de acontecer, e mesmo de olhos fechados acho que ainda acontece. A luz intromete-se por entre as pestanas e atira-se lá para o fundo do cosmos cerebral para nos continuar a fazer ver. Mas este ver que parece fácil, porque acontece sempre, é o mais difícil de todos. Existe para nos confundir, fazer crer que as coisas são apenas de uma forma, aquela que os olhos mostram. E se não soubermos falar com os olhos eles continuam a sua incrível tarefa, quais mágicos alquimistas, a tranformar a luz em realidade.
Mas depois acontece haver um... e o extraordinário desse um é o efeito que cria nos olhos, os olhos de ver de forma difícil. Mostra-lhes as coisas. Para que eles as vejam. Não lhes diz o que elas são, nem que nome devem ter, nem que gosto, ou cheiro ou toque, para além daqueles que lhe pertencem. A coisa nunca deixa de ser a coisa. E esse gesto desarma a máquina do ver, porque os olhos estão habituados a ver as coisas onde elas estão. (mas deixem que vos diga que onde elas estão não é um lugar, é mais um estado de permanência)
Os olhos estão habituados a ver tudo com exacta precisão, necessitam(os) dela para criar uma realidade onde possamos habitar. Assim, pedras são minerais e lápis são instrumentos de escrita. Não são folhas de papel nem picos montanhosos.
Essa mudança de estado acontece quando deixamos de ver ou querer ver a coisa dessa forma que parece fácil mas é a mais difícil; quando o desejo da exactidão da coisa nos deixa espaço para realmente ver a coisa. E talvez seja ainda pelos olhos que as coisas parecem acontecer, mas já são outros olhos, uns que fomos perdendo enquanto crescíamos fascinados com coisas. Esses olhos de quando éramos pequenos e ansiamos agora ter de novo. Os olhos de ver quando estamos com os olhos fechados. Os olhos de espreitar.
E o que mais importa, porventura, nem é o que se esconde debaixo da pedra quando lá vamos espreitar – sabemos sempre que lá está uma outra coisa, e seremos ainda mais sábios quando percebermos que essa outra coisa é exactamente aquela coisa que julgavamos ser outra coisa mas é ela mesma.
O que interessa é essa coisa que veio antes, e que existe sem nome pois é um nome diferente em cada um de nós e por isso não tem um só nome nem é uma só coisa, o que interessa é porque insistimos em espreitar para ver o que acontece por debaixo da pedra.