Dalila Gonçalves escolheu para esta publicação o formato de um livro de registo (implícita na origem latina da palavra – calendarium), onde reúne um conjunto significativo de obras, representativo da sua trajectória. Apesar de se intitular Calendário, o seu objetivo não é detalhar, mostrar e visualizar as obras, obedecendo a uma linha do tempo, com o fim de situar e ajudar a compreender as peças. Trata-se do uso do conceito para outros fins. Com essa apropriação a artista preferiu estabelecer um ciclo de estações, que se sucedem ao longo do livro, propondo temas que forneçam uma visão sobre diferentes aspectos da sua prática, estabelecendo possibilidades conceptuais de análise do seu trabalho.
Ainda assim o tempo é o maior aliado da prática artística e produtiva de Dalila Gonçalves. A sua obra é eminentemente processual. Muitos dos seus trabalhos demonstram essa atenção especial ao decorrer do tempo já que derivam de uma contínua actividade recolectora: reunir, acumular, colecionar, inventariar, dispor e expor são alguns dos meios e acções que articulam a sua obra. Digamos que os seus trabalhos assentam numa base dupla: o processo de colecionar objectos e o processo de instalação usado para dar um novo sentido e condição inédita ao conjunto. Esses são, por exemplo, os principais fios condutores de Organic Time (2012-2013), obra que consiste no processo de reunião de um grupo de bolas brancas de bilhar usadas e no posterior arranjo destes objetos encontrados. Na mesma linha situa-se Playing with Time(2012- 2013), peça constituída por 840 porta giz para tacos de bilhar que a artista foi coleccionando e acumulando paulatinamente, dispondo depois o seu conjunto numa configuração geometrizante.
Num campo de objectos banais, furtados, transferidos ou desviados da vida quotidiana e do seu valor de uso, e em tudo com características semelhantes, há porém, em cada recolecção, um pedido de atenção a uma mais lenta observação. É que se cada instalação nasce da composição e do alinhamento de iguais, não se pode deixar de perceber a heterogeneidade e as marcas inscritas por diferentes níveis de uso, desgaste, manuseio e acção do tempo sobre cada um dos múltiplos reunidos. De forma subtil e silenciosa, são essas variantes que mobilizam as qualidades estéticas, poéticas e afectivas do trabalho.
Nalguns casos, Dalila Gonçalves intervém de forma mais evidente na combinação das partes. Dispõe, criando escalas, variações de uso e desgaste, de cor do material, dando-lhes expressão gráfica e formal. É esta também a orientação que impulsionou Amontoar em Carga e Descarga (2012), instalação formada por canetas Bic pretas que organiza e classifica segundo a medida e o nível de uso da tinta de cada esferográfica. Deliminar (2012-2013), é também uma instalação formada por lápis de grafite usados, recolhidos em escolas. Este como outros dos seus trabalhos convocam assim um sentido de economia comum, neste caso derivados de processos de troca de objectos novos por usados.
Estes são modos de produção representativos da sua obra, que congrega um corpo de trabalho mais vasto, onde se incluem instalações, mas também fotografia, vídeo-instalações, intervenções públicas, desenhos, esculturas, realizadas com materiais diversos. Em algumas peças utiliza suportes de materialidade frágil, como o papel químico, explorando jogos simples de linguagem e as possibilidades bem como os efeitos de transferência da tinta e do pigmento por contacto. A essencialidade patente nestas obras, bem como a escassez de recursos são características também partilhadas em trabalhos como A4 (2013), peça constituída apenas por grafite aglutinado e que não obstante a sua densidade, tem um aspecto de extrema fragilidade.
Por último menciona-se ainda Tensor (2013), uma instalação formada por um mecanismo de iluminação e elementos de madeira e papel. Instalada em espaços onde a luz natural não entra, esta obra de aspecto muito artesanal, estabelece uma relação dinâmica entre o objecto e o espaço, os efeitos de luz e sombra, de visibilidade e invisibilidade, a partir do movimento ascendente e descendente produzido pelo dispositivo lumínico. Algo que, seja pelo contexto simbólico, seja pela aspiração metafórica, nos remete para um espaço de confronto com a natureza efémera e transitória dos objectos, mas também de qualquer experiência.
Dalila Gonçalves escolheu para esta publicação o formato de um livro de registo (implícita na origem latina da palavra – calendarium), onde reúne um conjunto significativo de obras, representativo da sua trajectória. Apesar de se intitular Calendário, o seu objetivo não é detalhar, mostrar e visualizar as obras, obedecendo a uma linha do tempo, com o fim de situar e ajudar a compreender as peças. Trata-se do uso do conceito para outros fins. Com essa apropriação a artista preferiu estabelecer um ciclo de estações, que se sucedem ao longo do livro, propondo temas que forneçam uma visão sobre diferentes aspectos da sua prática, estabelecendo possibilidades conceptuais de análise do seu trabalho.
Ainda assim o tempo é o maior aliado da prática artística e produtiva de Dalila Gonçalves. A sua obra é eminentemente processual. Muitos dos seus trabalhos demonstram essa atenção especial ao decorrer do tempo já que derivam de uma contínua actividade recolectora: reunir, acumular, colecionar, inventariar, dispor e expor são alguns dos meios e acções que articulam a sua obra. Digamos que os seus trabalhos assentam numa base dupla: o processo de colecionar objectos e o processo de instalação usado para dar um novo sentido e condição inédita ao conjunto. Esses são, por exemplo, os principais fios condutores de Organic Time (2012-2013), obra que consiste no processo de reunião de um grupo de bolas brancas de bilhar usadas e no posterior arranjo destes objetos encontrados. Na mesma linha situa-se Playing with Time(2012- 2013), peça constituída por 840 porta giz para tacos de bilhar que a artista foi coleccionando e acumulando paulatinamente, dispondo depois o seu conjunto numa configuração geometrizante.
Num campo de objectos banais, furtados, transferidos ou desviados da vida quotidiana e do seu valor de uso, e em tudo com características semelhantes, há porém, em cada recolecção, um pedido de atenção a uma mais lenta observação. É que se cada instalação nasce da composição e do alinhamento de iguais, não se pode deixar de perceber a heterogeneidade e as marcas inscritas por diferentes níveis de uso, desgaste, manuseio e acção do tempo sobre cada um dos múltiplos reunidos. De forma subtil e silenciosa, são essas variantes que mobilizam as qualidades estéticas, poéticas e afectivas do trabalho.
Nalguns casos, Dalila Gonçalves intervém de forma mais evidente na combinação das partes. Dispõe, criando escalas, variações de uso e desgaste, de cor do material, dando-lhes expressão gráfica e formal. É esta também a orientação que impulsionou Amontoar em Carga e Descarga (2012), instalação formada por canetas Bic pretas que organiza e classifica segundo a medida e o nível de uso da tinta de cada esferográfica. Deliminar (2012-2013), é também uma instalação formada por lápis de grafite usados, recolhidos em escolas. Este como outros dos seus trabalhos convocam assim um sentido de economia comum, neste caso derivados de processos de troca de objectos novos por usados.
Estes são modos de produção representativos da sua obra, que congrega um corpo de trabalho mais vasto, onde se incluem instalações, mas também fotografia, vídeo-instalações, intervenções públicas, desenhos, esculturas, realizadas com materiais diversos. Em algumas peças utiliza suportes de materialidade frágil, como o papel químico, explorando jogos simples de linguagem e as possibilidades bem como os efeitos de transferência da tinta e do pigmento por contacto. A essencialidade patente nestas obras, bem como a escassez de recursos são características também partilhadas em trabalhos como A4 (2013), peça constituída apenas por grafite aglutinado e que não obstante a sua densidade, tem um aspecto de extrema fragilidade.
Por último menciona-se ainda Tensor (2013), uma instalação formada por um mecanismo de iluminação e elementos de madeira e papel. Instalada em espaços onde a luz natural não entra, esta obra de aspecto muito artesanal, estabelece uma relação dinâmica entre o objecto e o espaço, os efeitos de luz e sombra, de visibilidade e invisibilidade, a partir do movimento ascendente e descendente produzido pelo dispositivo lumínico. Algo que, seja pelo contexto simbólico, seja pela aspiração metafórica, nos remete para um espaço de confronto com a natureza efémera e transitória dos objectos, mas também de qualquer experiência.